Alguns Dados Estatísticos
Na Amazônia brasileira, uma pesquisa realizada aplicando-se o método isotópico para evidenciar a
recirculação do vapor d’água na região (SALATI, 1985), indica que o balanço hídrico de uma bacia
hidrográfica nas proximidades de Manaus (área coberta com floresta densa) demonstrou que 25% da chuva
(que totaliza 2.200 mm/ano) jamais atingem o solo, ficando retidos nas folhas e voltando à atmosfera por
evaporação direta; enquanto 50% da precipitação são utilizados pelas plantas, sendo devolvidos à atmosfera,
na forma de vapor, por transpiração. Os igarapés, que drenam a bacia hidrográfica, removem os outros 25% da
água da chuva. Esses dados indicam que, naquele tipo de floresta densa, 75% da água de precipitação retornam
à atmosfera, resultado da influência direta do tipo de cobertura vegetal. Os estudos da bacia amazônica como
um todo, incluindo vegetações distintas de cerrado e de regiões montanhosas, indicam que, do total da água
precipitada, cerca de 50% saem pelo rio Amazonas e cerca de 50% voltam à atmosfera na forma de vapor,
através da evapotranspiração.
A conclusão a que chega o autor, é de que a floresta não é simples conseqüência do clima. Ao contrário, o
equilíbrio hoje existente, depende da atual cobertura vegetal. Portanto, o desmatamento ou a colonização
intensiva, ao substituir a floresta por outros tipos de cobertura (pastagem, agricultura anual) podem
acarretar modificações climáticas, porque introduzem alterações no balanço hídrico da região amazônica.
Algumas informações já são disponíveis sobre a relação entre água e floresta na Mata Atlântica.
Um estudo realizado no Parque Estadual da Serra do Mar em São Paulo (CICCO et al, 1988) quantificou a
interceptação da água de chuva por mata natural secundária em uma bacia experimental.
A pesquisa evidenciou que 18,23% da água das chuvas que chega à floresta retornam à atmosfera pelo processo
de interceptação. O restante atinge a superfície do solo, principalmente pela precipitação interna (80,65%) e
por uma pequena porção de água escoada pelo tronco das árvores (1,12%). Segundo os autores, esses valores
são compatíveis com os obtidos em floresta natural secundária em Viçosa (MG) e em floresta de terra firme na
Amazônia.
Em um contexto de mata ciliar com uma vegetação do tipo da água de chuva na copa das árvores foi de 37,6%.
Isto evidencia que mesmo não sendo Mata Atlântica, a recuperação de matas ciliares, em processo de
regeneração para uma floresta diversificada e bem estruturada, cumpre equivalentemente o papel de proteção
do solo, amenização climática e regularização do regime hídrico.
Em áreas de Brejo de Altitude, no interior de Pernambuco e Paraíba, onde por razões orográficas existem
formações florestais em região de caatinga, verifica-se que essas formações disjuntas da Mata Atlântica
Litorânea, têm marcante dependência de água e ao mesmo tempo influenciam os ciclos hidrológicos.
Em estudo realizado no Parque Ecológico Municipal Vasconcelos Sobrinho, na localidade de Brejo dos Cavalos
(Caruaru-PE), foi evidenciada forte concentração de chuvas na área, comparada com a do
entorno (CABRAL et al, 1999). Considerando a pluviosidade em cinco municípios vizinhos e em áreas do próprio
município de Caruaru, no período de agosto/98 a julho/99, observou-se que neste Brejo de Altitude a
precipitação foi cerca de quatro vezes superior.
Além de afetar o regime hídrico, refletindo no clima e nas vazões dos cursos d’água, a floresta tropical
úmida tem relevante papel no controle da erosão. AZEVEDO (1995) salienta que solos em bom estado de
agregação, com elevadas quantidades de matéria orgânica e umidade, além de elevado conteúdo microbiano
ativo, são mais resistentes à erosão. Esta condição se dá justamente em solos sob a cobertura de uma
floresta bem estruturada.
Diversos experimentos, como o apresentado por CROFT & BAILEY (1964), têm indicando que a manutenção de uma
boa cobertura vegetal é de fundamental importância para o controle do processo erosivo.
Na bacia hidrográfica as zonas ripárias apresentam-se essenciais para conservação. São áreas situadas nas
margens de cursos d’água e reservatórios e nas nascentes dos rios, onde se instalam as matas ciliares,
também chamadas florestas de galeria, veredas e matas de várzea (MANTOVANI et al, 1989).
Caracterizam-se pela condição de saturação do solo, pelo menos na maior parte do ano, em decorrência da
proximidade do lençol freático. São áreas das mais dinâmicas, tanto em termos hidrológicos, quanto
geomorfológicos e ecológicos (LIMA & ZAKIA, 2000). Pedologicamente considera-se que seus solos variam
essencialmente em função do maior ou menor hidromorfismo. Ocorrem desde solos orgânicos em áreas
permanentemente encharcadas, até solos aluviais em áreas mais altas (JACOMINE, 2000).
Devido às oscilações na umidade e no encharcamento do solo, em decorrência dos períodos de chuva e estiagem,
a vegetação que ocupa as zonas ripárias apresenta uma alta variação em termos de estrutura, composição e
distribuição espacial (RODRIGUES & SHEPHERD,2000).
Fonte: Programa Águas e Florestas da Mata Atlântica
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